quinta-feira, 27 de agosto de 2015

MANDALA DE CROCHÊ

A harmonia e o equilíbrio das cores dos Chakras 
em mandalas feitas em crochê!

A palavra "Chakra" vem do Sânscrito e significa "roda de luz". Os Chakras são centros de energia, que representam os diferentes aspectos da natureza sutil do ser humano. São eles: corpo físico, emocional, mental e energético. Os sete principais Chakras ficam localizados ao longo da coluna vertebral do corpo humano e, segundo a Tradição Hindu, seguem as cores do arco-íris.

by LA GATA
Melissa Gisele

Encomende a sua!

34 cm de diâmetro
R$ 30,00




quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A MOÇA TECELÃ


A MOÇA TECELÃ

Por Marina Colasanti




Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.


Marina Colasanti (1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei, mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em amor, Contos de amor rasgados, Aqui entre nós, Intimidade pública, Eu sozinha, Zooilógico, A morada do ser, A nova mulher (que vendeu mais de 100.000 exemplares), Mulher daqui pra frente, O leopardo é um animal delicado, Esse amor de todos nós, Gargantas abertas e os escritos para crianças Uma ideia toda azul e Doze reis e a moça do labirinto de vento. Colabora, também, em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil.

Texto extraído do livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, Global Editora , Rio de Janeiro, 2000.

Ilustração:
Bordados Matizes Dumont


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

CURRICULUM DA VIDA


CURRICULUM DA VIDA





Eu já dei risada até a barriga doer,

Já nadei até perder o fôlego. 

Já chorei até dormir e acordei com o rosto desfigurado.

Já fiz cosquinha na minha irmã só para ela parar de chorar. 

Já me queimei brincando com vela. 

Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto. 

Já conversei com o espelho e até já brinquei de ser bruxo.

Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. 

Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. 

Já passei trote por telefone. 

Já tomei banho de chuva e acabei me viciando.

Já roubei beijo. 

Já fiz confissões antes de dormir num quarto escuro pra melhor amiga. 

Já confundi sentimentos, peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido.

Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro. 

Já chorei ouvindo musica no ônibus. 

Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer.

Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas.

Já subi em árvore para roubar fruta. 

Já caí­ da escada de bunda. Conheci a morte de perto e agora anseio por viver cada dia.

Já fiz juras eternas, já escrevi palavrões no muro da escola, já chorei sentando no chão do banheiro, já fugi de casa para sempre e voltei noutro instante.

Já saí­ pra caminhar sem rumo, sem nada na cabeça, ouvindo estrelas. 

Já corri para não deixar alguém chorando.

Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas e senti falta de uma só.

Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado. 

Já me joguei na piscina sem vontade de voltar. 

Já bebi wisky até sentir dormente os lábios. 

Já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei o meu lugar.

Já senti medo do escuro.

Já tremi de nervoso.

Já quase morri de amor, mas renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial....

Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.

Já apostei em correr descalço na rua.

Já gritei de alegria por causa da minha Felicidade.

Já roubei rosas num imenso jardim. 

Já me apaixonei e achei que era pra sempre. Mas o sempre era um "sempre" pela metade. 

Já deitei na grama de madrugada e vi a lua virar sol. 

Já chorei por amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão...

Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção guardados num baú chamado coração.

E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita:

- Qual a sua experiência???

Essa pergunta ecoa no meu cérebro: Experiência... experiência...

Será que ser plantador de sorrisos é uma boa experiência???

- Não!!!

- Talvez eles não saibam colher sorrisos!!!



(Autor desconhecido)